sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

CARNAVAL, EM CAMPINA GRANDE= HISTÓRICO.


Bloco da Saudade
Pretende-se neste trabalho apresentar oportunamente, dois relevantes aspectos da cultura do Município de Campina Grande – PB, a Literatura de Cordel no sentido de resgatar de memória cultural através do Bloco da Saudade. Alem disso, o uso da literatura de cordel servirá de base para narramos à história do Bloco da Saudade, desde as suas bases inspiradoras que remonta aos Antigos Carnavais da década de 1930, quando as pessoas saiam às ruas para os festejos de momo, com roupas coloridas e brilhantes, e em que se viam nas ruas colombinas, pierrôs, bailarinas e personagens inspirados na Antiguidade. Muitos nem sequer sabiam de onde vinham aquelas vestimentas, o que prevalecia entre eles era a alegria e a vontade de compartilhar com a família e com os amigos a magia carnavalesca.
C0onforme entrevista com Valdenice em 20 de novembro de corrente ano, Neco Belo, folião de destaque nas festividades campinenses, tornou-se o ícone do Carnaval da cidade, por ser o folião mais famoso. Nascido Manoel Cavalcante Belo, ficou conhecido pelo nome de Neco Belo, fundou o Bloco os Caiadores, os qual disputavam com o Bloco Beija-Flor, cujo fundador pertencia a Família Lauritzen, numa disputa saudável, baseada apenas na diversão e nas fantasias dos foliões. As fantasias usadas pelos foliões do Neco Belo eram trazidas do Recife, e como não havia estação ferroviária em Campina Grande – PB ele ia de cavalo até o município de Alagoa Grande e, de lá, partia para Recife.
Assim, as disputas entre os blocos tinha como palco á Rua Maciel Pinheiro que, coração do comércio campinense, abrigando inclusive a feira da cidade. Com o passar dos anos, vai surgindo outros blocos. Na década de 1930, popularizaram os blocos como o Dona Não, o Bloco das Pastoras, os quais reuniam entre os seus foliões políticos, boêmios e instituais que desfilavam vestidos de mulher, além dos famosos Clubes como o Paulistano, o Clube 31 e Ypiranga, cujo desfile era realizado nas terças-feiras de carnaval.
Nos anos 40, iniciam-se os bailes de Carnaval no Grand Hotel e no Antigo Campinense Clube, cujos desfiles eram animados por orquestras que saiam desfilando pelas ruas centrais da cidade. A história continua, em 1950, eis que entra em ação o Bloco dos Sujos, com personagens clássicos como la ursa, índios, bois e papangus, neste mesmo período surgem às primeiras batucadas. A história prossegue, e na década de 1960, as festividades momescas entram em declínio, e as animadas orquestras de rua emudecem. O ano de 1964 fica marcado como o ano da realização do último desfile de rua e, com isto do Carnaval campinense.
Até que em 1991, uma luz em prol do resgate da memória momesca de Campina Grande começa a brilhar. A partir da iniciativa da produtora cultural, Eneida Agra Maracajá, famosa no município por engajar-se na defesa das tradições culturais e na divulgação da cultura em suas múltiplas faces: arte, cultura, dança, teatro, pintura, escultura e literatura. Ressurge das cinzas o Bloco da Saudade com o seu apogeu vem resgatando a identidade cultural dos antigos carnavais.
Utilizamos da pesquisa bibliográfica para melhor compreendermos a importância da cultura popular e assim, os estudo de Minois e Burke forneceram dados para fundamentação teórica da temática em questão.
CULTURA POPULAR: A HISTÓRIA DO RISO E DO ESCARNEIO
A partir do século XVI a reforma da Igreja católica e as mudanças que ocorreram por conseqüência desse processo, com a quebra dos paradigmas a Europa desperta para uma nova história, remodelando assim o imaginário das pessoas. E os autores MINOIS e BURKE nos textos acima citados, apresentam esse estudo da história para que possamos entender como aconteceu a reforma da cultura popular quando, o riso é proibido. Um dos principais objetivos do estudo e entender a nossa atualidade, compreendendo melhor a cultura popular atual na cidade de Campina Grande. Quando MINOIS ressalta o riso em suas varias versões, e BURKE destaca as festas populares, especificamente o carnaval.
No século XVI, espalhou-se pela Europa uma grande onda de escárnio, a “gargalhada da Renascença”, e há uma grande reação contra as manifestações sociais do riso popular. O riso perdeu sua espontaneidade e passa a ser irônico e libertino. Para a igreja esse era um tempo “sério”, porque o riso se os santos não riram? O próprio Jesus Cristo não riu? Quando a Igreja cria o movimento de reforma da cultura popular, com o intuito de restaurar a ordem e o sagrado. Então o riso é proibido porque não tem mais sua conotação natural e espontâneo, mas é depravado.
O carnaval na Idade Média tem características subversivas porque as pessoas usavam esse período para extravasar suas emoções, mostrando a vida quotidiana ao contrário, onde quase tudo era permitido. Era um feriado, havia toda uma preparação para esse período, desde as vestimentas, até preparação e decoração da casa e da comida. Os carnavais diferenciavam-se de região para região, era como se fosse uma grande peça, onde o público e os artistas se misturavam, e a rua era um grande palco.
Toda a multidão acompanhava, era uma multidão promiscua atentando assim contra a religiosidade, fazendo chacotas com personagens religiosos, e não se contentavam em apenas se fantasiar, eles também representavam papeis participando ativamente em ritos e muitas brincadeiras pejorativas.
BURKE destaca três temas principais no carnaval, o primeiro a comida, o próprio termo carnaval veio da “carne” justificado pelo grande consumo de carne de porco, o sexo, alguns historiadores estudaram e observaram um aumento de concepções nesse período, já que o aumento da atividade sexual era evidente, e a violência, que tanto era verbal como agressão física mesmo, pois também foi constatado um grande numero de assassinatos nesse período, “ideal para descontar velhos rancores”.
MINOIS ressalta a ocorrência da à separação da cultura das elites e a cultura popular, no século XVI; a primeira “livresca” e esclarecida “iluminada” visando o controle de si, a segunda desprovidas de qualquer didática, suspeita parecem culpadas, o que se vê por traz da alegria dos camponeses são, a magia, a superstição, e a feitiçaria, que caracteriza o riso carnavalesco tão suprimido pelas elites sociais. Mas BURKE chama a atenção para o reconhecimento e aceitação dos poderosos em relação ao controle social, que estas manifestações traziam, as próprias comunidades impunham com os rituais de justiça popular sendo o mais famoso o “charivari”. Que consistia numa espécie de difamação pública com o objetivo de punir a pessoa ou grupos que saísse do modelo social estabelecido pelas elites, apesar de perigosas estas festas se faziam necessárias para este fim. Para os historiadores das mentalidades é preciso tolerar essas loucuras do povo, por medo de que quando tratados com muito rigor chegue ao desespero. A preocupação das autoridades tem sentido, porque cada vez mais as “festas populares” terminavam em desordens, algumas em violências.
A grande massa de pobres aproveita este período para extravasarem, e denunciarem sua péssima condição de vida, quando são controlados e podados em sua cultura, pelo estado/clero repressores. Tudo começa em risos, alegria, o uso de máscaras e o grande consumo de bebidas alcoólicas passam da folia para a violência facilmente. A festa popular e uma espécie de loucura coletiva e para as autoridades são suspeitas, pois ameaçam a ordem pública. As festas mais especificamente o carnaval deixam mais evidente a desigualdade social, a distância entre o rico e o pobre é muito grande. Mas as elites são conscientes da necessidade das massas de uma “válvula de escape”, hora de desabafar os maus sentimentos, o descontentamento as más condições de vida os altos tributos, impostas pelos poderosos. O uso das máscaras no carnaval proporcionava o conforto da não identidade e com isso a impunidade, libertavam-se dos seus medos, e desempenhavam novos papeis. Mas mesmo no carnaval nem tudo era permitido, por isso havia uma espécie de “censura” passando a existir as músicas de duplo sentido e a agressão com a forma de ritual. As elites aceitavam porque viam a necessidade desses “respiradouros” para que assim essas camadas mais baixas da sociedade se tornassem mais maleáveis ao controle.
A festa era uma oportunidade de encontro dos pobres, e os camponeses vinham à cidade, alguns portando armas, proporcionando a ocorrência de motins (forma de ritual popular) é claro que os motins e as rebeliões não eram apenas rituais, e sim uma tentativa de ação simbólica, mas mesmo assim os rebelados e amotinados usavam rituais e símbolos para legitimar sua ação. E esses ocorriam por ocasião dessas festas. Muitas rebeliões ficaram famosas com verdadeiros massacres. Esse constitui um dos motivos para que as altas classes formassem movimentos para abolir estas festas, ou reformas para a cultura popular.
A partir do século XVI as elites passam a tratar com cuidado, estas festas, já que para eles pede desencadear várias situações de extrema violência. Era um período em que havia certa “liberdade” em “chacotear”, fazer piadas de tudo e de todos, das elites, do rei, e do clero, acima de tudo para a elite o perigo maior era a união dessas pessoas e a possibilidade de rebeliões, e a reforma da cultura popular é pensada e concretizada.
Para MINOIS o espírito das luzes não era mais favorável às festas populares porque eram indecentes, de mau gosto, resquícios de uma época bárbara, um costume maldito em que nessa época se perde o respeito e o temor de Deus. Essas eram as idéias e opiniões divulgadas pelos reformadores, principalmente os “puritanos”. Foram muitas as medidas adotadas, e se fazem sentir um pouco em toda parte, mas sua eficácia e pouca, pois continuam a acontecer às festas em lugares que imediatamente são suprimidos e logo explodem noutros. Na segunda metade do século XVIII os parlamentos aumentam as proibições, mas as festas populares tornam a ressurgir em todos os lugares. Percebe-se então que as medidas punitivas foram ineficazes. BURKE faz referência ao “riso carnava4lesco” para ele, o homem “correto” não ri porque ele tem conhecimento do mundo que não passa de um teatro de sofrimentos e desastres, não havendo razão para o riso. O homem que rir é irracional, comparado as bestas. Na Renascença todos podem rir só que e um riso “controlado”, pois agora o mundo e civilizado. O riso é, portanto destinado à oposição com a função critica de escárnio, zombaria. O bobo do rei representava o poder do mesmo, ainda que de forma cômica, para a igreja não era permitido um poder que não fosse o poder divino. Com o desaparecimento do bobo do rei quebra-se todo vinculo com a barbárie, inicia-se uma nova era. O monarca pode reinar sem empecilhos, pois se acabou a “bufonaria”.
Quanto á reforma e os reformadores; os católicos e os protestantes não tinham a mesma hostilidade em relação á cultura popular, e quando eram hostis, não era pelo mesmo motivo. A reforma católica tendia a significar modificações a reforma protestante era mais inclinada a eliminações. CONCLUSÃO

É possível dizer que na atualidade a cultura popular na cidade de Campina Grande-PB, e a essência dos antigos carnavais ainda permanece nos dias atuais. E claro que houve modernizações, agora os tempos são outros, mas o sentido é o mesmo as pessoas continuam a representar papeis, a mostrar um quotidiano às avessas, a viver espalhafatosamente neste período de carnaval, quando ainda quase tudo é permitido. E hoje talvez a violência seja ainda mais acentuada, pos causa do fácil acesso às drogas, e o elevado consumo das mesmas.
Nas sociedades antigas as elites combatiam o riso “as festas” por acharem suspeitas, por se tratar de grande aglomerações de camponeses pobres, que podiam se transformar em motim rebeliões, e a igreja concordando por se tratar de um riso de “escárnio”, então promove a reforma da “cultura popular”. Mas o que era a cultura popular? Para BURKE, a reforma teve dois lados, o lado positivo e o negativo. O positivo seria a tentativa das igrejas católica e protestante levar a reforma, aos camponeses e artesãos. E o negativo era a tentativa de reprimir “purificar” a cultura popular tradicional, e os reformadores são vistos como puritanos. Nesse sentido, vale lembrar que a questão do preconceito religioso ainda persiste; e o carnaval é considerado pela igreja uma festa “profana” assim, a participação do povo no carnaval não inclui religiosos fanáticos. E claro que hoje não há rituais tribais, e a igreja esta mais aberta e tolerante a algumas práticas, mas a população ainda está dividida entre a elite e o povo, “religiosos” e “profanos”.
Além disso, os carnavais não si misturam, há o carnaval dos ricos e o carnaval dos pobres. Em Campina Grande o carnaval da tradição permanece sem muita assistência dos órgãos governamentais. Entretanto, o carnaval “fora de época” é organizado e patrocinado pela elite campinense. Dessa forma, os participantes da Micarande inclusive o Bloco da Saudade que se constitui parte de uma cultura elitista, e o bloco do Spazzio que se destacam no evento trazendo como principal atração o TRIO ELÉTRICO CHICLETE COM BANANA onde atrai multidões de foliões da elite campinense. O Bloco da Saudade com orquestra de frevo, estandartes, fantasias e máscaras, é um resgate da identidade cultural dos carnavais antigos que promove a folia de rua opondo-se ao carnaval como evento empresarial.
Além disso, contribuem para despertar na comunidade a busca pela democratização da cultura, evitando a hegemonia de ritmos, danças que não se identificam com o som dos trios elétricos. Por isso representam um processo de resistência cultural o refazer o carnaval com o povo. Vale ressaltar que este trabalho acadêmico foi muito significativo, haja vista que nos aproximamos de algo completamente desconhecido para nós, a riqueza de conhecimento de fatos e acontecimentos. A pesquisa foi sem dúvida muito proveitosa tendo em vista que os estudos teóricos e práticos realizados possibilitaram-nos o crescimento ímpar no sentido de podermos vivenciar a realização de uma proposta de aprendizagem numa perspectiva cultural, apesar de ter sido em curto prazo, mas significativa.
A cultura popular

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